Projeto de Vida: uma tarefa a ser construída todos os dias



“Projeto de Vida” é um conceito que surgiu recentemente, talvez nos últimos 10 ou 15 anos. Seu surgimento, ao que tudo indica, tem estreita relação com a maneira como os indivíduos passaram a entender e a posicionar-se perante suas carreiras e suas vidas, devido às profundas mudanças observadas no cenário econômico e social resultantes dos processos de globalização e avanço das tecnologias de comunicação.

Até as décadas de 60 e 70 os lugares sociais de cada indivíduo ainda eram determinados muito em função de gênero e a gestão das carreiras era tarefa a ser compartilhada entre empregadores e empregados, com participação fundamental das empresas. Justo ou injusto, as coisas tinham lugares estabelecidos e as pessoas sabiam o que esperar do futuro.

A partir da década de 80, com o aumento da complexidade do ambiente empresarial e expansão dos mercados, observa-se um deslocamento gradual e irreversível dessa responsabilidade para os indivíduos, com grandes consequências sobre a vida dos trabalhadores e sobre sua percepção em relação a trajetória profissional e pessoal.

Como as carreiras não possuem mais as fronteiras organizacionais e a responsabilidade por sua gestão é dos próprios indivíduos, estes tornaram-se mais autônomos para tomarem suas próprias decisões, profissionais e pessoais. No entanto, deixando de contar com a segurança e orientação das instituições tornam-se reféns de um sistema que, ao mesmo tempo que liberta das amarras institucionais, aprisiona nas amarras das próprias cobranças e culpas. A trajetória fracassada não pode mais ser atribuída a políticas institucionais ou a qualquer fator externo, e sim ao sujeito que fez as escolhas erradas. Dentro desse ambiente em que o indivíduo se encontra sozinho para tomar suas próprias decisões, a angústia tende a crescer, pois às cobranças íntimas pelo sucesso profissional e pessoal, somam-se as preocupações em relação ao futuro.

Agora, mais do que esperar retorno da sociedade, ele mesmo pode – e deve – construir para si uma identidade e um projeto de vida consistentes e aderentes a seus valores. O papel do Orientador Profissional é auxiliar e acompanhar o indivíduo nessa jornada criativa, nesse processo de autodescobrimento que o levará a tomar consciência de quem é. Não é mostrar-lhe um caminho, mas facilitar a percepção do projeto único e individual que faz sentido para ele.

Trata-se de um processo de educação continuada, um programa de planejamento de vida, a ser realizado por pessoas de todas as idades, em todos os momentos de vida, dotando de sentido todas as esferas da vida, dentro e fora do trabalho. Somente a partir de decisões maduras e realistas o trabalho poderá ser emancipador, colocando o individuo em um lugar do mundo em que ele acredita e quer estar e onde poderá conquistar seu desenvolvimento integral.