Para muitos profissionais, o conceito de Trabalhabilidade pode parecer libertador. Afinal, quem não acha ótimo ser dono da própria carreira, mover-se com autonomia dentro do mercado e determinar as próprias metas e tarefas? Parece mesmo incrível, mas é preciso tomar cuidado, pois o modelo também apresenta problemas.
Acontece que as exigências para um profissional garantir a sua Trabalhabilidade são muitas! É preciso, além de atualizar-se e certificar-se constantemente em sua área de especialidade, manter-se atualizado também com os avanços tecnológicos das diversas esferas do mundo do trabalho, dominar idiomas, ter um perfil campeão no Linkedin, escrever conteúdos relevantes para gerar visualizações e compartilhamentos, cultivar um amplo networking, frequentar eventos e destacar-se no meio... enfim, garantir uma alta performance e manter-se constantemente em evidência.
Por outro lado, sabe-se que o mercado de trabalho, devido aos avanços da tecnologia e da globalização, não abre oportunidades para uma vasta gama de profissionais, simplesmente porque não há oportunidades para todos. Essa é uma realidade que atinge a todos, especialmente os mais velhos e os muito jovens. Assim, esse conceito de Trabalhabilidade parece trabalhar dentro da mesma lógica perversa de sempre, ou seja: num mercado saturado, a concorrência se torna cada vez mais acirrada, as relações de trabalho tornam-se cada vez mais frouxas, as pessoas procuram novos modelos de trabalho que não dependem apenas do emprego formal e deparam-se, mais uma vez, com a mesma concorrência que havia dentro das organizações formais de trabalho.
O perigo, nesse caso, é atribuir o possível insucesso apenas ao profissional, quando existe toda uma estrutura preexistente que dificulta seu sucesso. Essa é uma armadilha para a qual os psicólogos que atuam com orientação profissional e coaching precisam estar bem atentos. É importante entender e levar em consideração o contexto e a lógica real do mercado em que estão todos inseridos (inclusive o orientador!), para não agir como mero repetidor de ditas “verdades universais” e permitir que o cliente caia na velha armadilha de culpabilizar apenas a si mesmo por todas as diversas circunstâncias de sua trajetória.