Orientação Profissional para a Aposentadoria



Dados do IBGE (2019) indicam que a população brasileira está envelhecendo: a expectativa atual de vida no país é de 73,1 anos para homens e 80,1 anos para mulheres, o que significa que uma pessoa nascida no Brasil em 2019 tem a expectativa de viver, em média, até os 76,6 anos.

Se hoje o Brasil é um país de população adulta jovem, a comparação dos dados do IBGE entre 1940 e 2019, mostra que a esperança de vida aumentou impressionantes 31,1 anos, o que mostra um processo de envelhecimento da população galopante e inexorável. Dentro desse cenário, torna-se fundamental falar sobre aposentadoria e o que fazer para se reinventar em uma fase da vida que, ao que tudo indica, tende a tornar-se cada vez mais alongada.

Nas sociedades capitalistas, pode-se considerar o trabalho como o elemento mais determinante do desenvolvimento da identidade social dos indivíduos. O próprio Freud, em relação ao trabalho, afirmou: “Nenhuma outra técnica para a conduta da vida prende o indivíduo tão firmemente à realidade quanto à ênfase concedida ao trabalho, pois este, pelo menos, fornece-lhe um lugar seguro numa parte da realidade, na comunidade humana”.

Já a partir do início da vida escolar – e da própria estruturação da escola enquanto instituição - os indivíduos começam o processo de construção de seu lugar no mundo tendo como modelo final a profissão ou atividade através da qual serão inseridos no mundo adulto e produtivo. Após a entrada nesse mundo, serão anos e anos de dedicação, em que o trabalho seguirá como uma constante, independente de quantas mudanças de percurso, idas e vindas aconteçam dentro da carreira. Logo, é impossível negar a centralidade do trabalho na constituição da subjetividade e da identidade dos indivíduos, e fica claro porquê a iminência da aposentadoria pode ganhar contornos dramáticos para alguns profissionais.

No senso comum, a aposentadoria representa o estágio final da carreira do indivíduo. Se por um lado pode ser encarada como um merecido descanso após anos de dedicação ao trabalho, por outro pode ser encarada como o triste fim da vida produtiva. A projeção social, poder e demais elementos associados ao papel de trabalhador devem dar lugar a um outro papel social, nem sempre claramente percebido pelo indivíduo, posto que a identidade ocupacional tende a compor uma grande parte da identidade individual.

Além disso, a cultura de grande parte dos segmentos sociais coloca as atividades ou o tempo fora do trabalho como pouco prioritários, e a “folga” é vista como algo inaceitável. Assim, ao mesmo tempo em que podem ter esperança de maior qualidade de vida, mais tempo com a família, possibilidade de viagens e novas atividades, a aposentadoria traz implícita a ideia de inatividade, de tempo livre como tempo ocioso, não produtivo, e o aposentado tende a tomar para si sentimentos de inutilidade.

Por isso, um trabalho de Orientação para a Aposentadoria é fundamental nos anos que precedem o evento. Ao longo desse período, o indivíduo poderá elaborar um projeto de vida e uma percepção de si desvinculados da identidade profissional construída ao longo da vida laboral. Poderá criar novos conceitos de si e do outro e descobrir novos interesses e maneiras de ser no mundo, construindo um projeto de vida próprio, independente de amarras institucionais e estereótipos sociais. Apenas assim essa fase da vida, que tende a alongar-se cada vez mais, poderá ser vivida com criatividade, satisfação e autenticidade.